Primeira Guerra Mundial
A Primeira Guerra expôs um novo paradigma de destruição bélica ao mundo.
A Europa brilhava sobre o mundo ... Vivia-se o apogeu da sociedade liberal, capitalista. O apogeu, dialeticamanete, traz consigo germe da mudança. Esse germe eram as próprias contradições permanentes e fundamentais do Modo de Produção Capitalista: a miséria do proletariado em meio à abundância, as crises de superprodução, a frenética busca de mercados, os problemas sociais e econômicos .. . Enfim, todos esses problemas, ao evoluírem, geraram a crise do mundo liberal capitalista, e a Primeira Grande Guerra representou na prática o início desta crise. Os homens da época, mesmo às vésperas do conflito, não acreditavam na possibilidade de uma guerra generalizada. No máximo, levantavam a possibilidade de uma guerra rápida e localizada nos moldes das ocorridas no século XIX ... Mas o longo período de relativa paz mantida desde o fim das guerras napoleônicas e o “equilíbrio europeu” estabelecido no Congresso de Viena em 1815 terminavam. . . A Europa não mais brilhava sobre o mundo ...Ofuscada pelos esforços de guerra, seu declínio era inevitável. Os problemas sociais e econômicos agravaram-se: a classe média se pauperizava e a pressão operária aumentava. Em meio à guerra, a Revolução Socialista explodira na Rússia, e, agora, representava uma ameaça para a Europa. Diante do “perigo vermelho”, como reagiriam os industriais e financistas do mundo capitalista? Estudando a Revolução Russa encontraremos a resposta para essa questão.
Até 1914 – Hegemonia da Europa
Apesar do desenvolvimento dos Estados Unidos e do Japão, a Europa exercia em 1914 a supremacia econômica e política sobre o resto do mundo. Econômica porque controlava a maior parcela da produção mundial, 62% das exportações de produtos fabris e mais de 80% dos investimentos de capitais no exterior, dominando e ditando os preços no mercado mundial. Era a maior importadora de produtos agrícolas e matérias-primas dos países que hoje compõem o Terceiro Mundo. Hegemonia política porque na sua, expansão o capitalismo europeu levou à necessidade de se controlar os países da Ásia, África e América Latina. Á Europa era desigual quanto à estrutura econômica e política. Dos 23 Estados europeus, 20 eram Monarquias e só a França, Suíça e Portugal eram Repúblicas. Os regimes políticos eram constitucionais, mas 0 Parlamentarismo, forma típica do Liberalismo Político, só existia de fato na Grã-Bretanha, Bélgica e França, pois os demais países, apesar de constitucionais, possuíam formas autoritárias de governo, como a Áustria-Hungria e a Alemanha. Os problemas sociais refletiam a diversidade das estruturas sócio-econômicas. Nos países da Europa Centro-Oriental a nobreza predominava. Já nos países da Europa Ocidental, a industrialização colocara frente a frente a burguesia e a classe operária. Entretanto, a ameaça de uma revolução social era remota naquele momento, pois a maioria dos partidos socialistas tendia à moderação, aderindo ao jogo político do Liberalismo. As únicas exceções eram algumas facções de esquerda, como os Bolchevistas russos. Só os Estados tinidos e o Japão colocavam-se fora da influência européia, disputando com o capitalismo europeu “áreas de influência”. Em 1914 os Estados Unidos já eram potência econômica mundial, controlando pequena parcela do mercado mundial e recebendo investimentos da Europa. O Japão, após sua “abertura ao Ocidente”, desenvolveu-se rapidamente via Revolução Meiji, passando a integrar-se ao círculo das nações imperialistas voltando suas vistas para a China e a Manchúria, na Ásia. Alianças e choques Internacionais no período anterior à Guerra O clima internacional na Europa era carregado de antagonismos que se expressavam na formação de alianças secretas e de sistemas de alianças, tornando a ameaça de uma guerra inevitável. O desenvolvimento desigual dos países capitalistas, a partir de fins do século XIX, levara países que chegaram tarde à corrida neocolonialista internacional, como a Alemanha, a reivindicarem uma redivisão do território econômica mundial; tendo se acentuado a rivalidade pela luta por mercados consumidores, pela aquisição de matérias-primas fundamentais e por áreas de investimentos. Essa rivalidade na época do imperialismo refletiu-se em âmbito mundial devido à interdependência criada entre as economias das diversas regiões do mundo pela expansão do capitalismo. Daí o caráter mundial do conflito. Existiam inúmeros pontos de atrito entre as potências, os quais geravam antagonismos, os principais eram: 1° – o conflito anglo germânico: a Alemanha, unificada tardiamente e tendo se desenvolvido “rompendo etapas” no final do século XIX, já desalojara a Inglaterra da sua posição de “oficina do mundo”, mas não possuía colônias, áreas de investimentos e outros mercados correspondentes à sua pujança econômica, daí a política agressiva expressada também na corrida navalista, o que foi considerado uma ameaça à secular hegemonia marítima inglesa;
2° - o franco-alemão : girando principalmente em torno da questão da Alsácia-Lorena, territórios franceses anexados à Alemanha em 1871. Os alemães se opunham também à penetração francesa no Marrocos, o que “ameaçava” a “paz mundial” com os incidentes de Tânger (1905), Casablanca (1908) e Agadir (1911);
3° - o áustro-russo: acentuado quando os russos, afastados do Extremo Oriente após a derrota para o Japão em 1905, voltaram as atenções para os Bálcãs, onde a política russa foi de apoio à Sérvia, foco de agitação nacionalista anti-austríaca; 4° - o russo-alemão : em torno do controle dos Estreitos de Dardanelos, já que a rota do expansionismo russo cortava a do imperialismo alemão (Berlim-Bagdá); 5° - o áustro-sérvio: nos Bálcãs, a Sérvia fomentava as agitações nacionalistas dentro do Império Áustro-Húngaro, sendo constante fonte de atritos, levando quase ao conflito em 1908 quando a Áustria ocupou a Bósnia-Herzegovina e em 1912 quando exigiu a independência da Albânia. Foi esse último foco de atrito que provocou o início do conflito, em 1914. No plano ideológico a época se caracterizou pela intensificação dos nacionalismos, os quais serviam para encobrir as ambições imperialistas. Podem ser mencionados o Pangermanismo (desenvolvido na Alemanha e afirmando a superioridade da “raça” alemã), o Revanchismo (dominando a França e com idéias de uma desforra contra a Alemanha por causa das perdas e humilhações sofridas em 1870) e o Pan-Eslavismo (difundido na Rússia e atribuindo aos russos a função de “proteger” os demais povos eslavos). Para sustentar o nacionalismo agressivo e o imperialismo beligerante, os países empreenderam a corrida armamentista. Intensificou-se a produção de armas e munição, desenvolveu-se a construção naval, aumentaram-se os exércitos: era a Paz Armada. “Se a Alemanha fosse extinta amanhã, depois de amanhã não haveria um só inglês no mundo que não fosse rico. Nações lutaram durante anos por uma cidade ou um direito de sucessão - não deveríamos nós lutar por um comércio de duzentos e cinqüenta milhões de libras? A Inglaterra deve compreender o que é inevitável e constitui sua mais grata esperança de prosperidade. A Alemanha deve ser destruí da “ (Trechos de The Saturdaw Review, citado por BLRNS, E.. MCNALL, . op. cit., pág. 784.) “Um país desfibrado está à mercê do primeiro que chegar, um pais armado, anima do pelo espírito militar e pronto para o combate, está certo de impor o respeito e de evitar os horrores da guerra.” (Afirmativa de Paul Cambon, diplomata francês, em 1909.) Essa atmosfera de tensão explica a formação de dois sistemas de alianças. Um, a Tríplice aliança, aparentemente mais coesa, agrupando Alemanha, Áustria-Hungria e Itália. O único ponto fraco era a Itália, por ser incerta sua atitude na ocasião de um conflito e também por estar se aproximando das potências da Entente Cordiale. O outro sistema era a Tríplice Entente, formada de uma aliança militar (a franco-russa) e dois acordos (a Entente Cordiale - franco-inglesa — e o Acordo anglo-russo). Os vínculos entre tais países eram mais frágeis do que aqueles que entrelaçavam o “sistema alemão” e tinha contra si a fragilidade social, política e econômica da Rússia, sendo também difícil prever o comportamento da Inglaterra antes de iniciar-se um conflito armado. O sistema de alianças secretas gerou um mecanismo tal, que bastava um incidente para desencadear um conflito generalizado. E foi o que ocorreu em julho de 1914, quando o Arquiduque, herdeiro do trono austríaco, Francisco Ferdinando, foi assassinado em Sarajevo por um estudante da Bósnia-Herzegovina (província austríaca reivindicada pela Sérvia). A partir daí os acontecimentos se precipitaram: 1 - a Áustria, apoiada pela Alemanha, enviou um ultimatum à Sérvia, o qual, não sendo atendido integralmente, levou os austríacos a declararem a guerra;
2 - a Rússia mobilizou as tropas em defesa da Sérvia, recebendo um ultimatum alemão para se desmobilizar;
3 - a 1 ° de agosto a Alemanha declarou guerra à Rússia e, dois dias após, à França;
4 - imediatamente a Bélgica foi invadida, ignorando a Alemanha a sua neutralidade, o que levou em 4 de agosto, a Inglaterra a declarar-lhe guerra;
5 - a Itália se omitiu, embora pertencesse à Tríplice Aliança, argumentando que o seu compromisso com a Áustria e com a Alemanha previa sua participação apenas no caso de tais países serem agredidos. |